“Operação Tutoia”, trabalho realizado em 2007 e 2008 por Fernando Piola, desafia de forma contundente a estratégia de silenciamento em torno dos aparelhos de repressão e explicita, por meio de um lento processo de subversão das aparências, o caráter violento de instituições simbólicas da ditadura, como o Doi-Codi. Durante meses, o artista trabalhou no número 921 da Rua Tutoia, em São Paulo, apresentando-se como paisagista. E, semana a semana, substituiu as plantas do jardim por diferentes espécies de coloração vermelha, transformando o entorno da antiga sede do centro responsável pela detenção e tortura de milhares de pessoas e assassinato de 50 opositores ao regime em palco de uma ação ousada de intervenção urbana, denúncia política e investigação poética.
A ação subverteu o espaço das forças de poder e tornou visível o que se pretendeu varrer da história e da memória. Os registros fotográficos (forma definitiva de um trabalho efêmero por natureza) hoje pertencem à coleção do Museu de Arte Contemporânea (MAC). E mostram como o tingimento da paisagem de vermelho, uma cor tão cheia de simbologias, foi pouco a pouco tornando concreta, pulsante e real a necessária tomada de consciência, não apenas em relação às brutalidade cometidas naquele local (que ainda hoje, surpreendentemente, abriga o 36º Distrito Policial da cidade), mas ao descaso em relação a um período negro de nossa história.
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